Como as oportunidades podem construir verdadeiras mudanças
Nasci com a inclinação para o empreendedorismo e para o trabalho. Quando se tem menos de 18 anos, é incrível como é restrito ou mau visto o exercício de qualquer atividade remunerada que não seja no ramo das artes, da música e do futebol. Você pode ficar milionário com 12 anos, desde que sua fonte de receita seja uma das hipocritamente permitidas, mesmo com todos sabendo o quanto as crianças são exploradas e assediadas nesse meio. Nesse mundo de pessoas poderosas e dinheiro, Conselho Tutelar ou Vara da Infância não se envolvem.
Não consigo entender essa dislexia que penaliza outras formas trabalho e o benefício de ocupar o tempo vago e ajudar a formar o caráter e dar um rumo profissional as crianças e adolescentes, que não nasceram com talento para a bola e para os palcos. Note bem, não estou falando aqui de trabalho insalubre ou análogo a escravidão, mas sim daquela antiga figura do aprendiz. Quisera eu ter podido aprender desde cedo uma profissão, acompanhar a rotina de um profissional experiente, qualquer que seja a área. A vida teria sido muito mais fácil para mim, para minha mãe e meus irmãos mais novos. Não existe antídoto mais poderoso contra a pobreza e a miséria, do que o trabalho.
Apesar do ECA definir os direitos das crianças e adolescentes, ele não impede que milhares de crianças a adolescentes nos bolsões da pobreza, saiam de casa todos os dias, para defender seu pão de cada dia, como engraxate, como pedintes, como aviõezinhos do tráfico e como objetos sexuais. Infelizmente a realidade nua e crua não é formada por crianças que podem apenas ser crianças, é formada em sua maioria por crianças que hoje sustentam ou ajudam a sustentar suas famílias.
Como seria bom se houvesse uma política pública que, em parceria com as empresas, pudesse servir de terceira via, apadrinhando crianças e adolescentes, dando a eles uma profissão, desenvolvendo talentos e agregando toda a autoestima necessária para que eles tenham um sentido em suas vidas. O que temos hoje são ações pulverizadas de braços sociais de grandes empresas e o trabalho de Ongs, algumas das quais tive o privilégio de atuar como professor, que lutam contra um gigante formado pelas leis arcaicas, burocracia e a visão míope de quem não quer enxergar a realidade. Ou mudamos tudo, ou nada vai mudar.
Esse texto é o pequeno passo que dou para começar a mudança primeiro em mim e influenciar de algum modo, aqueles da minha rede que comungam da mesma ideia. As gerações do presente dependem de nós para terem o futuro que elas merecem. Se você pode mentorar alguém, se pode ajudar algum jovem em situação de risco, a hora de abraçar todo mundo é agora. Bora começar?